JERUSALÉM

Este blog visa inicialmente divulgar excertos de algumas das mais belas passagens das Sagradas Escrituras. Veremos também, em comentários, o que a Cabala e o Kardecismo nos dizem sobre isto. Conforme o blog puder alargar e diversificar os seus postuladores, esperamos chegar a incluir conteúdos de outros livros sagrados, nomeadamente o Corão e escritos induístas e budistas. JERUSALÉM quer assim ser um lugar de ecumenismo, para, modestamente, religar o que foi separado. BENVIND@!

sexta-feira, dezembro 01, 2006

LIVRO DE JOB


Prólogo

O Livro de Job é o primeiro dos Livros Sapienciais do Antigo Testamento.
“Havia, na terra de Uce, um homem chamado Job. Era um homem íntegro e recto, que temia a Deus e se afastava do mal. Tinha sete filhos e três filhas, Possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, quinhentas jumentas e uma grande quantidade de escravos. Este homem era o mais importante do Oriente.”
Satan convenceu Deus a pôr a fé de Job à prova para além da saúde e abundância de que dispunha, e Deus aceitou, com a única condição de que Satan lhe não tirasse a vida. Começam então as provações de Job, primeiro infligidas sobre a totalidade dos seus bens, depois de outras acabando por atingi-lo com uma crudelíssima lepra.
Este belíssimo poema espelha antiquíssimas e sempre actuais questões do Humanismo universal. Job lamenta-se e revolta-se contra Deus mas para sua defesa, paradoxalmente, é a Ele que apela. A todo o tempo se discute o literalismo das relações pecado / castigo ou virtude / recompensa, à face da justiça divina, cujos desígnios superam os da justiça dos homens.
Job acaba se enchendo de plena humildade, e Deus lhe duplica a antiga felicidade.
Como diz o meu psicólogo, o Livro de Job é também sobre a depressão um exacto tratado.

Jaime Vehuel


Excertos

(…)
(Os três amigos) Ficaram sentados ao lado dele, sete dias e sete noites, sem lhe dizer palavra, pois viram que a sua dor era demasiado grande.
(…)
já que não me fechou a saída do ventre
nem afastou a miséria dos meus olhos!
Porque não morri no seio da minha mãe
Ou não pereci ao sair das suas entranhas?
(…)
Em lugar de pão, engulo os meus soluços
(…)
Pode um homem ser justo na presença de Deus
Ou um mortal ser puro diante do seu Criador
Ele não confia nem nos seus próprios servos,
E até mesmo nos seus anjos encontra defeitos;
(…)
Se me deito digo: “Quando chegará o dia?”
Se me levanto: “Quando virá a tarde?”
E encho-me de angústia até chegar a noite.(…)
Quando afastarás de mim o teu olhar
E deixarás que eu engula a minha saliva.
Que pecado cometi contra ti,
Ó juiz dos homens?
(…)
Ele extermina tanto o inocente como o malvado.
Se, de repente, um flagelo causa a morte,
Ele ri-se do desespero dos inocentes.
Deixa a terra entregue às mãos do ímpio,
E cobre o rosto dos seus juízes.
Se não é Ele, quem é, pois?
(…)
Mas eu vou falar com o Todo poderoso,
E desejo discutir com Deus.
(…)
Eu era feliz e ele arruinou-me,
Agarrou-me pela nuca e fez-me em pedaços,
Tomou-me como seu alvo.
Disparou as suas setas contra mim,
Atravessou os meus rins sem piedade
(…)
reparai que foi deus quem me desorientou
e me envolveu nas suas redes.
Grito contra essa violência e ninguém responde,
(…)
então, do seio da tempestade,
o Senhor respondeu a Job e disse:
Quem é esse que obscurece os meus desígnios
Com palavras insensatas?
Cinge os rins como um homem;
Vou interrogar-te e tu responder-me-ás.
Onde estavas quando lancei os fundamentos da terra?
(…)
O Senhor dirigiu-se a Job e disse-lhe:
«Aquele que criticava o Todo-Poderoso quererá discutir?
O que fazia correcções a Deus que responda a isto!»
E Job respondeu ao Senhor dizendo:
Falei levianamente. Que poderei responder-te?
Ponho a minha mão sobre a boca;
(…)
Vê o hipopótamo que criei como a ti
Que se nutre de erva como o boi.
A sua força reside no seu lombo,
E o seu vigor nos músculos do seu ventre.
Levanta a sua cauda como um cedro;
(…)
Esperar vencer o crocodilo é um engano;
(…)
Os seus espirros relampejam fogo,
Os seu olhos são como arrebois de aurora.
Da boca saem-lhe chamas
Como archotes ardentes.
No seu pescoço reside a força
E, diante dele, tremem de espanto!
(…)
Job respondeu ao Senhor e disse:
(…)
Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti,
Mas agora vêem-te os meus próprios olhos.
Por isso retracto-me e faço penitência
Cobrindo-me de pó e de cinza.
(…)

O Senhor abençoou a condição de Job mais do que a antiga.
(…)


Excertos in Bíblia Sagrada para o terceiro Milénio, monges Franciscanos Capuchinhos, Ed. Difusora Bíblica, 2000

Ver também: O outro Livro de Job, Miguel Torga, em www.viravirou.blogspot.com, arquivo de Dezembro 2006


quarta-feira, novembro 29, 2006

NO PRINCÍPIO ERA O VERBO


No princípio existia o Verbo;
o Verbo estava em Deus;
No principio ele estava em Deus.
Por Ele é que tudo começou a existir;
e sem Ele nada veio à existência.
Nele é que estava a Vida
de tudo o que veio a existir.
E a vida era a Luz dos Homens.
A Luz brilhou nas trevas
mas as trevas não a receberam.

Apareceu um homem enviado por Deus, que se chamava João. este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz.
O Verbo era a Luz verdadeira,
que, ao vir ao mundo,
a todo o homem ilumina.
Ele estava no mundo
e por Ele o mundo veio à existência,
mas o mundo não o reconheceu.

Veio para o que era seu,
e os seus não o receberam.
Mas, a quantos o receberam,
aos que nele crêem.
deu-lhes poder de se tornarem
filhos de Deus
.
Estes não nasceram de laços de sangue,
nem de um impulso da carne,
nem da vontade de um homem
e veio habitar connosco.
E nós contemplámos a sua glória,
a glória que possui como Filho Unigénito do Pai,
ceio de graça e de verdade
.
João deu testemunho dele ao clamar:«Este era aquele de quem eu disse: "O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim"».
Sim, todos nós partcipamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo.
A Deus jamais alguém o viu. o Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.

in Bíblia Sagrada para o terceiro milénio da encarnação, versão dos monges Franciscanos Capuchinhos, ed Difusora Bíblica, Lisboa 2000.
Sublinhados nossos.

sexta-feira, novembro 17, 2006

CÂNTICO DOS CÂNTICOS


Diálogo apaixonado

Cântico dos cânticos, que é de Salomão.


Ela
Que ele me beije com beijos da sua boca!
Melhores sao as tuas carícias que o vinho,
ao olfacto sao agradáveis os teus perfumes;
a tua fama é odor que se difunde.
Por isso te amam as donzelas.
Arrasta-me atrás de ti. Corramos!
Faça-me entrar o rei em seus aposentos.
Folgaremos e alegrar-nos-emos contigo;
mais que o vinho celebraremos teus amores.
Com razão elas te amam.
(...)

Ela
Enquanto o rei está em seu divã,
o meu nardo dá o seu perfume.
Uma bolsinha de mirra é o meu amado para mim,
que repousa entre os meus seios;
um cacho de alfena é o meu amado para mim,
das vinhas de En-Guédi.

Ele
Ah! Como és bela, minha amiga!
Como são lindos os teus olhos de pomba!

Ela
Ah! Como é belo o meu amado!
E como é doce,
como é verdejante o nosso leito!
Cedros são as vigas da nossa casa,
e os ciprestes, o nosso tecto.


Vem o amado

Eu sou o narciso de Saron,
eu sou o lírio dos vales.

Ele
Tal como um lírio entres as árvores
da floresta
é a minha amada entre os jovens.
Anseio sentar-me à sua sombra,
que o seu fruto é doce na minha
boca
(...)

Ela
fortaleçam-me com maçãs
porque eu desfaleço de amor
(...)

A voz do meu amado! Ei-lo que chega,
correndo pelos montes,
saltando sobre as colinas
O meu amado é semelhante a um gamo
ou a um filhote de gazela.
Ei-lo que espera,
por detrás do nosso muro,
olhando pelas janelas,
espreitando pelas frinchas.
Fala o meu amado e diz-me:
(...)


Sonhos de amor

Ela
No meu leito, toda a noite,
procurei aquele que o meu coração ama;
procurei-o e não o encontrei.
Vou levantar-me e dar voltas pela cidade
(...)
Mal me apartei deles, logo encontrei
aquele que o meu coração ama.
Abracei-o e não o largarei
até fazê-lo entrar na casa de minha
mãe,
no quarto daquela que me gerou.
(...)

Saí, mulheres de Sião, e admirai
o rei Salomão com o diadema
com que coroou sua mãe
no dia do seu casamento,
no dia de festa do seu coração.


Belezas da amada

Ele
Ah! Como és bela, minha amiga!
Como estás linda! Teus olhos são
pombas,
por detrás do teu véu.
O teu cabelo é como um rebanho
de cabras
que descem do monte Guilead;
os teus dentes são um rebanho de ovelhas,
a subir do banho, tosquiadas:
todas elas deram gémeos
e nenhuma ficou sem filhos.
Como fita escarlate são os teus lábios
e o teu falar é encantador;
as tuas faces sao metades de roma,
por detrás do teu véu.
O teu pescoço é como a torre de David
erguida para troféus:
dela pendem mil escudos, tudo broqueis dos heróis.
Os teus dois seios são dois filhotes
gémeos de uma gazela
que se apascentam entres os lírios,
antes que rebente o dia
e as sombras desapareçam.
Quero ir ao monte da mirra
e à colina do incenso.
Toda bela és tu, ó minha amada,
em ti defeito não há.
Vem do Líbano, aproxima-te.
Desce do cimo da Amaná,
do cume de Senir e do Hermon,
dos esconderijos dos leões,
das tocas dos leopardos.

Roubaste-me o coração, minha irmã e minha noiva,
roubaste-me o coração com um dos teus olhares,
com uma só conta do teu colar.
Como sao doces as tuas carícias,
minha irmã e noiva!
Muito melhores que vinho sao as
tuas carícias;
mais forte que todos odores
é a fragância dos teus perfumes.
Os teus lábios destilam doçura,
ó minha noiva;
há mel e leite sob a tua língua,
e o aroma dos teus vestidos
é como o aroma do Líbano.
(...)


Procurar o amado

Ela
Meu amado passou a sua mão
pela fresta
e as minhas entranhas estremeceram
por ele
(...)
Fui abrir ao meu amado
e o meu amado já havia desaparecido.
(...)
Eu vos conjuro, mulheres de Jerusálem:
se encontrardes o meu amado,
sabeis o que dizer-lhe?
Que eu desfaleço de amor.

Novo retrato da amada

(...)

Ele
Louvam-na as donzelas quando a vêem,
celebram-na rainhas e concubinas

Elas
Quem é essa que desponta como aurora,
bela como a Lua
fulgurante como o Sol,
terrível como as coisas grandiosas?
(...)


A dança do amor

(...)
Ele
Como és bela, como és desejável,
meu amor com tais delícias!
Esse teu porte é semelhante à palmeira,
os teus seios são os seus cachos.
Pensei:«Vou subir à palmeira,
vou colher os seus frutos.»
Sejam os teus seios
como cachos de uvas,
e o hálito da tua boca, perfume de maçãs.
A tua boca bebe o melhor vinho!

Ela
Que ele escorra por sobre o meu amado
molhando-lhe os lábios adormecidos.
Eu pertenço ao meu amado,
e o seu desejo impele-o para mim.
Anda meu amado,
corramos ao campo,
passemos a noite sob os cedros;
madruguemos pelos vinhedos,
vejamos se as vides rebentam
e se abrem os seus botões,
e se brotam as romazeiras.
Ali te darei as minhas carícias.
As mandrágoras exalam o seu perfume,
à nossa porta há toda a espécie de frutos,
frutos novos, frutos seco,
que eu guardei, meu amado, para ti.
(...)

Sob a macieira te despertei,
lá onde a tua mãe sentiu as dores,
onde sentiu as dores a que te deu à luz.
Grava-me como selo em teu coração,
como selo no teu braço,
porque forte como a morte é o amor,
implacável como o abismo é a paixão
os seus ardores são chamas de fogo
são labaredas divinas.

(...)

in "Bíblia sagrada para o Terceiro Milénio da Encarnação", Franciscanos Capuchinhos, Difusora Bíblica, 2000

foto:
www.analogia.org








quinta-feira, novembro 16, 2006

FORTUNA